Potencial de retorno econômico pelo uso de touros melhoradores em monta natural

ABCZ, Mapa e Apex-Brasil realizam missão prospectiva na Ásia
2 de outubro de 2019
Acordo UE-Mercosul abre porta para agronegócio brasileiro, mas setores mais competitivos ficam limitados, avaliam especialistas
2 de outubro de 2019

Considerando-se um único acasalamento, reprodutor e matriz têm o mesmo valor, uma vez que cada um contribui com a metade do seu genoma para a formação de um novo indivíduo. No entanto, ao longo da vida reprodutiva, enquanto a vaca pode deixar até oito-dez filhos, o touro pode ser pai de dezenas. Além disto, por demandar menor número de animais para reposição, a pressão de seleção de touros é muito maior do que a de fêmeas. Por estas razões pode-se demonstrar que o touro proporciona de 84% a 88% do ganho genético de todo o rebanho, para relações touro:vaca de 1:20 e 1:40, respectivamente, e características de 20% de herdabilidade. Desta forma, a escolha dos reprodutores é decisiva para o sucesso do sistema de produção.

O retorno econômico de um touro pode ser avaliado de maneira simplificada pela análise do peso à desmama de bezerros que além de apresentar parâmetros genéticos acurados dispõe de valor comercial bem estabelecido pelo mercado.

A partir da avaliação genética da raça Nelore lançada pelo Programa Embrapa-Geneplus em novembro de 2015, estimou-se em 4,26 kg a DEP – Diferença Esperada na Progênie para o peso a desmama, envolvendo machos superiores possivelmente ativos e com produtos desmamados em 2015. Por outro lado, a comercialização de mais de 80 mil animais realizada de janeiro a dezembro deste mesmo ano apontou em R$6,16 o valor médio do kg de bezerro desmamado. Assim, com base na definição de DEP, o retorno econômico de cada filho de um touro superior pode ser estimado em R$26,24, quando comparado aos filhos dos demais touros no âmbito do referido Programa.

Outra consulta à mesma avaliação genética acima referida permitiu observar que a média do peso à desmama ajustada para a idade de oito meses nos plantéis de seleção, ao longo do ano de 2015, foi de 217 kg, entre machos e fêmeas. Nos rebanhos comerciais, por outro lado, observou-se, na categoria de 8 a 10 meses de idade, a média de 173 kg, considerando ambos os sexos. Embora esta categoria envolva animais de até 10 meses, a maioria deles apresenta idade próxima de oito meses, semelhante à idade padrão adotada nos rebanhos puros. Admitindo-se esta aproximação, mesmo assim, verifica-se uma “defasagem” da ordem de 44 kg entre os dois rebanhos.

Dessa diferença total, parte é ambiental, ou de manejo, e parte é devida à própria “defasagem genética” dos rebanhos comerciais em relação aos plantéis puros. Na falta de uma avaliação mais precisa do quanto desta defasagem é devida aos fatores genética e ambiente, pode-se supor que cada um deles seja responsável por metade dessa diferença. Assim sendo, a “DEP realizada” de um touro superior, quando utilizado em um rebanho comercial, seria igual ao valor da DEP no rebanho de seleção + ½(defasagem genética), ou seja: 4,26 + 1/2(22) = 15,26 kg. Desta forma, o valor de um único produto de um touro superior seria, nestas condições, R$94,00 acima da média dos bezerros comerciais.

Em rebanhos comerciais, com relação touro:vaca de 1:40, taxa de desmama de 75% e módulo de 200 matrizes, para exemplo de reposição anual de um touro, pode-se verificar que a renda extra devida a este pequeno incremento de peso à desmama produz receita suficiente para a reposição deste touro no valor de até R$10.340,00 – equivalente a 71 arrobas de boi gordo (média da @ em 2015: R$145,42), mesmo após a reserva de fêmeas para a reposição de 20% das matrizes. Somando-se o valor dos bezerros comercializados ao do touruno descartado (média de R$2.595,39 / animal), a receita total seria suficiente para cobrir os custos de reposição com a aquisição de reprodutor ao valor de até R$12.935,39.

Para o alcance destes resultados, é necessário que se estabeleça uma estratégia de desembolso de modo que, em um ciclo máximo de cinco anos, se tenha em atividade reprodutiva apenas touros geneticamente superiores.

Obviamente, o retorno econômico baseado apenas no peso à desmama está muito longe de representar o real impacto de um touro melhorador no rebanho. Uma avaliação mais precisa deveria incluir os reflexos até o abate (machos e fêmeas descartadas) e sobre o rebanho de cria, considerando-se os ganhos relativos a peso corporal, qualidade das carcaças e das fêmeas de reposição.

Considera-se, portanto, que o investimento em touros geneticamente superiores apresenta elevado potencial de retorno econômico, podendo contribuir decisivamente para a melhoria da produtividade e da renda das fazendas de pecuária de corte.

Antônio Ferreira Rosa; Roberto Torres Jr.; Fernando Costa, pesquisadores da Embrapa Gado de Corte

Embrapa Gado de Corte

Fonte: EMBRAPA

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

1 × 3 =

ATENDIMENTO VIA WHATSAPP
Enviar Whatsapp